Antes de virar Soraya Carioca, a atriz pornô com “bem mais de 800 cenas gravadas” foi bancária e professora de português no Rio de Janeiro. Perdeu as contas, mas segue ensinando: venceu o Prêmio Sexy Hot 2016 na categoria Melhor Cena de Anal. No currículo, também constam dois casamentos heterossexuais e uma filha adotiva do penúltimo relacionamento gay.
Fora a idade, Soraya realmente não esconde nada – do corpo, das opiniões, dos bastidores do entretenimento adulto. Odeia pênis grande, tapa na cara, posições mirabolantes. Nesta entrevista, ela revela um pouco de sua trajetória, as dificuldades de atuar no ramo e os truques dos diretores pra atender o tesão dos consumidores. Aposto que, depois disso, você não vai assistir sacanagem do mesmo jeito.
– Como você começou na indústria pornô?
SORAYA – Casei virgem, de véu e grinalda, aquela palhaçada toda… Meu primeiro casamento durou quatro anos e o segundo, três. Aí me separei e levei uma “volta financeira”. Procurando anúncios em jornal, vi a oportunidade de ser cam girl [stripper virtual] em sites americanos. Uma coisa foi levando a outra. Conheci garotas que me levaram pra fazer programa [Soraya ainda faz]. Depois, diretoras de pornô que procuravam atrizes. Fui assistir uma gravação, fiz uma participação e comecei em 2005.
– Em média, quanto uma atriz recebe por filme?
SORAYA – Antigamente pagavam conforme o currículo da atriz, quantidade e tipo de cena – dupla penetração, por exemplo, custava o dobro. Hoje prefiro não comentar os valores porque tá patético. As mulheres fazem filme a qualquer preço ou até de graça pra aumentar o valor do programa, conseguir shows em casas noturnas etc. Mas recebemos por cena, independente do tempo de gravação e do que precisamos fazer nela.
– As cenas são totalmente dirigidas ou rola “sexo de verdade”?
SORAYA – Nada é aleatório. A gente começa a cena já sabendo as posições que devem ser feitas e a estimativa de tempo de cada uma. O diretor diz que tem três minutos para a posição tal, depois quatro minutos na outra… Aliás, antes da gravação, tem a sessão de fotos – que dura muito mais que a cena em si. Ali já ensaiamos as posições e a ordem em que elas vão acontecer. O bom é que, se a gente esquece, vai e olha nas fotos.
– Nossa, parece brochante.
SORAYA – Bem mais do que as pessoas podem imaginar. Você tá lá gravando e o diretor avisa: “Falta um minuto, termina!”. O homem tem que gozar na hora.
– Fazer pornô é mais difícil para os atores?
SORAYA – Muito mais. Corta a cena, desliga a câmera, o diretor pergunta “em quanto tempo você consegue gozar?”. Em geral, o cara fica lá batendo uma e os outros atores que tão esperando pra gravar começam a cobrança: “Vai logo, tá demorando!”.
– E se ele não consegue gozar?
SORAYA – Aí tem duas possibilidades. Uma é o gozo de mentira, feito com uma mistura de pasta de dente ou hidratante branco com lubrificante. Pode colocar, por exemplo, na boca da atriz. Quando liga a câmera de novo, o ator bota o pênis ali como se fosse gozar, faz aquela encenação toda e a atriz começa a cuspir aquilo. A segunda saída é parar a gravação e outra pessoa (o câmera, o diretor…) goza de verdade na atriz, mas na edição fica parecendo que foi o ator.
– As atrizes que supostamente “ejaculam” em cena estão urinando, né?
SORAYA – Poucas conseguem de verdade. Eu mesma nunca ejaculei. A maioria usa duas técnicas, dependendo da cena. Se for pra esguichar, tomam cerveja antes porque é bastante diurético e urinam como se estivessem ejaculando. Quando é só pra fazer um aguaceiro, introduzem na vagina uma espécie de bolinha d’água que estoura de uma vez com a penetração. É que nem nas cenas de flatos.
– Oi?
SORAYA – É um fetiche por ouvir o barulho do pum durante o sexo. Eu faço essas cenas, mas tem gente que acredita que eu fico meia hora lá soltando gases naturalmente. É impossível! O que acontece é que a câmera muda de foco, não mostra meu corpo, enquanto alguém coloca ar no meu ânus com uma bombinha.
– Quantos % dos orgasmos das atrizes pornô são fingidos?
SORAYA – Eu diria que 98% fingem. Algumas meninas conseguem porque tomam anabolizante, esteroide, hormônios e têm um tesão fora do normal. Mas, para a maioria, não tem como gozar em cena. Você tem que mudar de posição quando o diretor manda, ele fica avisando quantos minutos faltam pra acabar… Ah, não dá.
– Que filme você mais gostou de fazer?
SORAYA – Meu preferido é “Soraya Carioca e seu harém de 100 homens”. Transei com 115 homens durante seis horas e meia de gravação. Todos se inscreveram pela internet.
– Qual o tamanho médio do pênis dos atores pornôs?
SORAYA – No pornô, eles têm entre 19 e 25 cm. A média nacional é uns 14 cm, né? Eu acho que menos de 13 cm é “inexistente”. Mas pênis grande também não é legal porque machuca, qualquer coisa fica desconfortável. Já fiz cena com um ator americano que tinha 33 cm e foi péssimo. Aliás, nem fica totalmente ereto porque não tem sangue pra irrigar tudo.
– O uso de remédio pra ereção é comum?
SORAYA – Sim, 99% tomam meia hora antes da cena.
– Você tem que se preparar antes das gravações? Tem algum hábito?
SORAYA – Eu costumava fazer alongamento pra aumentar a flexibilidade e não ter cãibras. É comum que as atrizes tomem um relaxante muscular e analgésico – algumas usam drogas. Eu já fiquei viciada no [nome do remédio] pra aguentar cenas de sexo anal e malabarismos tipo botar os pés atrás da cabeça.
– Na vida pessoal, você copia as posições sexuais dos filmes?
SORAYA – Não, não são prazerosas. Em algumas posições, parece que esquartejaram a gente e colaram os pedaços depois. Fico toda quebrada, passo uma semana com dor na coluna [risos]. Mas o ângulo pra câmera fica maravilhoso, funciona esteticamente.
– Já se recusou a fazer alguma cena?
SORAYA – Já, principalmente por causa de violência. Sou paga pra f*der, não pra apanhar. Uma vez levei um tapa no rosto que até o cílio postiço saiu voando. Cortei a gravação na hora. Mas algumas novatas se sentem obrigadas a aceitar. Tapas na bunda que deixam vergões, puxões de cabelo que arrancam até o mega hair… Tem ator que gosta de humilhar, ainda mais quando tá cheirado doidão. Também já recusei fazer cena com atrizes fedidas que não tinham higiene íntima, credo! E com um ator que tava com umas bolinhas estranhas no pênis. Avisei o diretor que não ia botar minha boca ali.
– As produtoras exigem que atores e atrizes apresentem exames?
SORAYA – A gente tem que fazer sorologia: HIV, hepatitite B e C, sífilis. Não tem obrigação de levar espermograma e preventivo [que detectam, por exemplo, gonorreia e HPV]. Quando a produtora é séria, o diretor vai com o elenco em um laboratório bom e acompanha os exames. Assim não tem como falsificar o resultado.
– E camisinha não existe?
SORAYA – Nos filmes internacionais, não. No Brasil, existem três produtoras que gravam filmes sem camisinha. A maioria exige porque sai mais barato. Quando tem camisinha, não precisam pagar exames pro elenco… Tive sorte porque nunca peguei nenhuma DST, mas não foi por falta de riscos. Já gravei com ator que, meses depois, descobriu que tava com sífilis. Nesses casos, todo mundo que gravou com esse ator fica três meses parado, só fazendo exames a cada 15 dias.
– Você gosta de assistir pornô com a sua namorada? Acha excitante?
SORAYA – Não [risos]. Gosto de assistir pra apontar os erros: os cortes de câmera, o gozo de mentira, o gemido exagerado… Fora que já trabalhei com quase todo mundo do pornô brasileiro e americano, então tenho que procurar filmes bem desconhecidos de outros países. Ou não tem graça. No geral, é brochante.
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